terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Escreve coisas-se

Para quem lê um pouquinho sobre crônicas , percebe que o meu título nada original remete-se a um texto da autora Martha Medeiros, chamado 'Vende Frango-se'. Nessa minha primeira postagem queria render uma homenagem à todos, que como eu ,não desenvolveram o dom de escrever, mas que podem e devem com suas imperfeições causar alguma construção, quem sabe perfeita sobre a realidade cotidiana  que nos cerca.  Que esse  blog imperfeito sirva para rir, pensar, refletir, criticar e sobretudo partilhar textos que gosto muito.





 VENDE FRANGO-SE

 Alguém encontrou esta pérola escrita numa placa em frente a um mercadinho de um morro do Rio: "Vende frango-se". É poesia? Piada? Apenas mais um erro de português? É a vida e ela é inventiva. Eu, que estou sempre correndo atrás de algum assunto para comentar, pensei: isto dá samba, dá letra, dá crônica. Vende frango-se, compra casa-se, conserta sapato-se.

Prefiro isso aos "q tc cmg?" espalhados pelo mundo virtual, prefiro a ingenuidade de um comerciante se comunicando do jeito que sabe, é o "beija eu" dele, o "que vim aqui casa?" de tantos.

Vende carne-se, vende carro-se, vende geléia-se. Não incentivo a ignorância, apenas concedo um olhar mais adocicado ao que é estranho a tanta gente, o nosso idioma. Tão poucos estudam, tão poucos lêem, queremos o quê? Ao menos trabalham, negociam, vendem frangos, ao menos alguns compram e comem e os dias seguem, não importa a localização do sujeito indeterminado. Vive-se.

Talvez eu tenha é ficado agradecida por este senhor ou senhora que anunciou-se de forma errônea, porém inocente, já que é do meu feitio também trocar algumas coisas de lugar, e nem por isso mereço chicotadas, ao contrário: o comerciante do morro me incentivou a me perdoar. Esquecer o nome de um conhecido, não reconhecer uma voz ao telefone, chamar Gustavos de Olavos, confundir os verbos e embaralhar-se toda para falar: sou a rainha das gafes, dos tropeços involuntários. Tento transformar em folclore, já que falta de educação não é. Conserta destrambelhada-se. Eu me ofereço pro serviço. Quem não? Sabemos todos como é constrangedor não acertar, mas lá do alto do seu boteco, ele nos absolve. Ele, o autor de um absurdo, mas um absurdo muito delicado.

Vende frango-se, e eu acho graça é uma coisa boa, sinal de que ainda não estamos tão secos, rudes e patrulheiros, ainda temos grandeza para promover o erro alheio a uma inesperada recriação da gramática, fica eleito o dono da placa o Guimarães Rosa do morro, vale o que está escrito, e do jeito que está escrito, uma vez que entender, todos entenderam. Fica aqui minha homenagem a imperfeição.
                                   
                                                                                           Martha Medeiros.

Um comentário:

  1. honra de ser o primeiro mas assim como disse um grande homem,nao fazemos as coisas esperando q milhares vejam e aplaudam,façamos para uma unica pessoa se assim o for e q se for bom nao importa o publico ams a intençao cm q eh feito..Maninha vc eh assim faz tdo em intençai de uma unika pessoa cm a mesma capacidade q se fosse pra milhares.

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